sexta-feira, 7 de março de 2014

Conheça Hiroyuki Nakayama: o responsável pela trilha de Final Fantasy

O pianista Hiroyuki Nakayama, um dos principais compositores e instrumentistas de estúdios japoneses de RPG como Square Enix, tri-Ace e Mistwalker, foi o artista por trás do recital “Piano Opera”, que compila obras da série Final Fantasy em seus seis primeiros episódios. Na semana passada Nakayama apresentou-se no MASP, em São Paulo, e contou que não pretende manter o Brasil apenas na memória. Ele disse, nos momentos finais da apresentação, que se surpreendeu muito com a resposta do público brasileiro, fato que o fez considerar uma segunda visita, no futuro, que inclua o famoso compositor Nobuo Uematsu como companhia.
Nakayama durante a apresentação (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia)Nakayama durante a apresentação (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia)
O evento foi organizado pela Fundação Japão em parceria com Square Enix e aconteceu no último dia 19 de ferevereiro, no salão principal do MASP. Apesar de uma lotação relativamente grande (374 presentes) a noite teve certo clima de decepção, pois especula-se que mais de 600 ficaram de fora. A distribuição dos ingressos, gratuita, foi anunciada para uma hora antes do evento, mas esgotou-se muito antes disso: houve relatos de pessoas que chegaram com até três horas de antecedência e não puderam entrar. A fila de entrada dava voltas embaixo do icônico museu.
Para quem entrou, no entanto, foi uma noite memorável. Começando pontualmente as 20 horas, Nakayama tocou por cerca de uma hora e meia, e incluiu entre suas peças obras como “Love Theme”, deFinal Fantasy IV, “Clash on the Big Bridge”, do quinto episódio, e o intrincado “Dancing Mad”, de Final Fantasy VI. Entre as músicas e respostas apaixonadas do público, Nakayama contou algumas anedotas sobre o que é ser um músico de games no Japão.
“Tocar para um público assim, um tipo de música do qual eu gosto tanto, é um sonho que eu consigo viver diariamente”, disse, com a ajuda de um tradutor, antes de ser ovacionado escandalosamente, e riu: “Agora eu entendo o que dizem sobre o público brasileiro”. O pianista comentou que prepara para o mês de maio o lançamento da segunda parte da Piano Opera, centrado nos Final Fantasy VIIVIII e IX, que será posto ao público com dois grandes concertos no Japão. “Vendo a paixão de vocês aqui… Eu gostaria muito de voltar para tocar aqui também esse novo trabalho”, disse.
Depois da apresentação, o TechTudo teve acesso a Nakayama em seu camarim, onde ele conversou sobre sua profissão e suas opiniões sobre a música nos games. Confira:
O pianista e compositor Hiroyuki Nakayama é conhecido na indústria de games por seu trabalho com RPGs japoneses (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia) (Foto: O pianista e compositor Hiroyuki Nakayama é conhecido na indústria de games por seu trabalho com RPGs japoneses (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia))O pianista e compositor Hiroyuki Nakayama é conhecido na indústria de games por seu trabalho com RPGs japoneses (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia)
TechTudo: Há pouco sobre o senhor disponível hoje. Qual é a sua história até aqui?
Hiroyuki Nakayama: Minha formação é mais clássica. Toco piano órgão e piano desde os cinco anos, quando ia depois das aulas para o teatro da escola e tocava o órgão que havia por lá. Conforme fui crescendo, ia tocando na escola as músicas dos jogos que saiam, e fui ganhando fama. Foi a única época que fiz sucesso com as garotas. Me formei no Tokyo Institute of Music no departamento de Composição. Em 2010, houve uma comemoração de 200 anos do nascimento do compositor Chopin em Varsóvia, onde eu fui escalado como pianista. Muitas das apresentações minhas são de Chopin, sozinho ou com outros instrumentos. Fora isso, sou professor de Música Clássica para TV na [emissora estatal japonesa] NHK.
TT: O envolvimento com a Square Enix e tri-Ace aconteceu como?
HN: Por acaso, o Uematsu estava procurando um compositor para rearranjar suas músicas, e por acaso uma das exigências era que o candidato fosse formado nesse departamento de Composição do Instituto de Tóquio. Além disso, um colega meu que trabalhava na Square Enix apresentou a oportunidade para mim, e foi aí que me envolvi, fazendo arranjos orquestrais das músicas dele. E já que era orquestral, naturalmente tinha a parte de piano, e cheguei a tocar em algumas ocasiões. Mais tarde, o Uematsu lembrou que havia alguém que, além de compor, ainda tocava piano, e foi aí que veio o convite para que fizéssemos essa obra.
TT: Como se desenvolveu seu relacionamento com Nobuo Uematsu ao longo dos anos?
HN: Temos uma relação bastante próxima em função de estarmos trabalhando no Piano Opera volume II, sobre os Final Fantasy VII, VIII e IX, que será lançado em maio deste ano. Graças a isso, temos trabalhado juntos. Também tivemos a comemoração de 25 anos de Final Fantasy, quando pude acompanhar Uematsu à Tchecoslováquia.
A escolha por um auditório de 400 lugares claramente subestimou o tamanho do público. Mais da metade das pessoas ficaram de fora (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia)A escolha por um auditório de 400 lugares claramente subestimou o tamanho do público. Mais da metade das pessoas ficaram de fora (Foto:Rafael Salvador/Nikko Fotografia)
TT: Existe alguma diferença entre compor novos arranjos para games e músicas eruditas tradicionais?
HN: Música para jogos tem que conquistar muita gente, tem que ser bastante popular. Tem que ser uma música compreensível, que caia no gosto de muita gente. Por outro lado, o arranjo de música clássica já é uma expressão de si mesmo, então você faz aquilo que você quiser, independente do público. Essa é a grande diferença.
TT: Pessoalmente, você sempre quis trabalhar na indústria dos jogos ou foi uma coisa que aconteceu por um golpe de destino?
HN: Quando eu entrei para o mercado de games, eu já estava um pouquinho afastado dos games, já tinha entrado no mundo da música clássica. Mas eu sempre gostei disso, então talvez o encontro não tenha sido tão acidental. Eu realmente gosto desse trabalho.
TT: Lost Odissey, Final Fantasy, Kingdom Hearts… É bem óbvio que o sucesso que o senhor conquistou nos últimos anos te colocou numa trajetória muito sólida nos games. Qual é o plano? Ir pela carreira da música clássica e fazer o eventual trabalho em games ou continuar nesse caminho em paralelo?
HN: O público de games e o público de música clássica são normalmente dois grupos que não se misturam, mas, para mim, música é música, independente do gênero. Eu considero que o meu trabalho pode ajudar a quebrar esse muro que separa os dois gêneros – faz com que gente que gosta de música de games comece a ter interesse em música clássica ou o contrário. Não quero trabalhar mais em um gênero e deixar o outro de lado, mas trabalhar os dois juntos para tentar misturar os dois, fazer com as pessoas gostem dos dois.
TT: Quando a apresentação do Piano Opera volume 2 estiver concluída no Japão, o senhor pretende voltar ao Brasil?
HN: Acho que a música realmente enriquece o espírito, e eu gostaria muito de continuar a trabalhar nisso. Eu gostaria muito de voltar ao Brasil e, quem sabe, trazer o senhor Uematsu comigo. Tenho certeza que ele estava torcendo pelo sucesso dessa apresentação lá no Japão.
Fonte: Tech Tudo.
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