segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pai leva filhos viciados em Call of Duty para uma zona de guerra de verdade

Carl-Magnus Helgegren
Quem gosta de videogame pode não concordar, mas a franquia Call of Duty é uma das mais lucrativas da história. Embora ganhe jogos muito parecidos todos os anos, a série arrecada bilhões de dólares em vendas logo nas primeiras horas de lançamento, e parece que essa estratégia adotada pela Activision, responsável por publicar o game, não vai acabar assim tão cedo.

Claro que tamanho sucesso não atrai apenas os jogadores veteranos e mais velhos, mas também adolescentes e até mesmo crianças que acabam por viciar na temática de guerra da série. Leo e Frank, de 10 e 11 anos, respectivamente, integram esse público mais jovem, e no ano passado pediram uma cópia de Call of Duty ao pai, o jornalista sueco Carl-Magnus Helgegren. Ele aceitou comprar o jogo para os filhos, só que com uma condição: eles teriam de visitar uma zona de guerra ocupada para entender a (suposta) realidade retratada no game.

Helgegren, que atuou como freelancer no Oriente Médio quando era mais novo, pensou em levar os filhos para o Iraque ou Afeganistão, mas optou por Israel por considerar uma opção mais segura - eles visitaram o país em abril, antes dos conflitos recentes em Gaza. Em Israel, os três foram até as Colinas de Golã, local onde fica o campo de refugiados Shuafat. 

Não demorou muito para que Leo e Frank ficassem chocados em descobrir como é o dia a dia dos cidadãos que residem naquela localidade. Havia um mercado de drogas a céu aberto perto de uma escola, pessoas queimavam lixo na rua e, segundo um médico local, crianças apareciam todos os dias com marcas na cabeça devido a golpes feitos por cabos de armas.

Carl-Magnus Helgegren
O jovem Frank no campo de refugiados Shuafat, a 10 metros da escola local. (Foto: Divulgação/Carl-Magnus Helgegren)

Ainda nas Colinas de Golã, na região de Majdal Shams, Helgegren contou aos filhos a história de um ataque com armas químicas em Damasco, na Síria, a apenas 40 quilômetros de distância de onde eles estavam - no mesmo local que havia aparecido na primeira página de vários jornais. "Eles olharam para o cenário e disseram: 'Uau, isso é de verdade'", comentou o pai.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Helgegren disse que o "passeio" não tinha como objetivo traumatizar os garotos - eles passaram por experiências mais agradáveis, como visitas a museus, ao zoológico e à casa de uma família israelense. Segundo o jornalista, que foi bastante criticado por amigos e parentes, a ideia era fazer com que os filhos tivessem mais consciência de que nem tudo o que aparece na tela de um jogo mostra como a realidade é de fato.

Carl-Magnus Helgegren
Frank e Leo, ao centro, visitaram um campo de guerra em Israel, em abril deste ano. (Foto: Divulgação/Carl-Magnus Helgegren)

"Eles [Leo e Frank] ficaram muito tristes. Meu filho mais novo queria trazer sua pistola de ar para defender os filhos de Shuafa, mas disse a ele que a razão pela qual eles estão lá é porque, em primeiro lugar, alguém trouxe uma arma. E levar uma outra arma não resolveria a situação", disse. A mudança maior foi quando Helgegren e os filhos voltaram para casa. 

"Eles não querem mais jogar esses jogos de guerra porque não se sentem bem", revelou. Frank, filho mais velho, chegou a comentar que podia imaginar porque as pessoas estavam fugindo de seu país e porque buscavam asilo em outras nações.

Para os pais, Helgegren dá um conselho: "Assuma a responsabilidade daquilo que os seus filhos estão jogando, e se vocês pais querem dar um fim nisso, basta viajar para algum lugar e mostrar-lhes a guerra ou compre um livro para educá-los. Devemos fazer isso por nossos filhos. Se deixarmos eles ignorantes [da realidade], não podemos dizer que realmente acreditamos que o mundo vai mudar. Se eles não têm o conhecimento, como podem se posicionar para uma mudança?", conclui.

Carl-Magnus Helgegren
Os dois garotos disseram ao pai que preferem não jogar mais videogames como Call of Duty. (Foto: Divulgação/Carl-Magnus Helgegren)


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