O que você faria se recebesse 15 mil euros de bolsa para viajar para Estônia e desenvolver jogos? Foi essa oportunidade que a startup BitCake Studio anunciou no dia 4 de março, ao fechar contrato com a aceleradora europeia GameFounders. O time brasileiro de seis desenvolvedores se reuniu na cidade estoniana de Talinn com outras equipes de diversos países, como Ucrânia, China e Argentina. O objetivo deles é um só: Fazer games juntos. Para descobrir mais detalhes, a coluna Geração Gamer conversou com Camilla Slotfeldt Viana (24), que nos contou sobre o programa, a viagem e os planos do BitCake. Confira.
Brasileiros da BitCake receberam 15 mil euros para desenvolver jogos na Estônia (Foto: Arquivo Pessoal)
Como encontraram uma aceleradora?
“Estávamos procurando aceleradoras e incubadoras no Rio de Janeiro. Depois que o Critical Studio fechou as portas, nós precisávamos de um novo lugar para nos reunir e trabalhar todos os dias, porque eles nos forneciam isso. Tentamos participar do processo seletivo de todas as aceleradoras que conhecíamos na cidade, mas a resposta que tivemos foi desanimadoramente unânime: o projeto de vocês é muito legal, vocês já tem um jogo com pessoas jogando, o que é ótimo e muitas startups não têm, mas infelizmente nós não aceitamos projetos de games”, disse Camilla, explicando um pouco dos impasses que ela e seus colegas enfrentaram entre o fim de 2013 e este começo de 2014.
Camilla Slotfeldt, do BitCake Studio, explica que muitas aceleradoras não trabalham com empresas de games, infelizmente (Foto: Arquivo Pessoal)
O grupo estava desanimado. O Critical Studio fechou em outubro de 2013 após produzir DungeonLand, o jogo brasileiro que chegou no top 10 do Steam com cerca de um milhão de reais de investimento. Se nem eles, que ajudaram na formação do BitCake Studio, conseguiram se manter, como esse jovem empresa iria se sustentar nos próximos meses?
“Ficamos bem desanimados na época, mas conseguimos um lugar que acabou funcionando muito bem para trabalhar: A garagem da minha casa! Montamos então um escritório lá e ficamos trabalhando por alguns meses, mas sem parar de correr atrás de oportunidades do tipo. Em uma das tentativas, ficamos sabendo de um evento organizado pela SLUSH, uma organização de startups finlandesa. Através deles, acabamos chegando ao site da GameFounders, que são parceiros”, diz Camilla, sobre esta época recente. As iniciativas na região da Escandinávia e proximidades, que incluem a Estônia, pareciam uma boa ideia.
E ela completa: “Nunca tínhamos ouvido falar daquilo, e era em um país que nenhum de nós conhecia… Mas as inscrições estavam abertas! Então, por que não? Parecia uma ótima oportunidade de aprender a fazer o BitCake Studio crescer e nos dar mais possibilidade de desenvolver nossos projetos”.
Como eles conseguiram?
“Fizemos a inscrição sem pensar muito e nem dar a devida atenção, pra falar bem a verdade. Inclusive, em um dos campos da inscrição, que pedia um vídeo, nós enviamos um nosso carregando uma porta pelo centro da cidade! E mesmo com esse vídeo, nós acabamos passando… Depois da inscrição, ficamos um tempo sem receber resposta, mas depois veio um e-mail dizendo que passamos para a próxima fase. Tivemos uma entrevista por Skype e, quando vimos, passamos de novo”, confessa Camilla Slotfeldt.
Project Tilt é o projeto bem-sucedido do BitCake Studio (Foto: Divulgação)
A verdade é que a empresa, embora tenha criado um jogo como Project Tilt, que mistura Quake com Mario Kart e Worms Armageddon, não se leva muito a sério. E foi justamente o bom humor e o jeito despretensioso do grupo que os ajudou a ganhar respeito fora de nosso país.
“O processo teve várias fases, terminando com um pitch de três minutos por Skype. A gente ia conseguindo sem saber muito bem o que pensar: E se a gente passar? Vamos mesmo morar na Estônia? Seria uma questão que mudaria totalmente a dinâmica da empresa, então não queríamos levantar muito as expectativas. Mas, no fundo, sabíamos que seria uma super experiência e queríamos muito que acontecesse”, pontua a artista, iniciada nos games através de um Mega Drive com Sonic. Camilla Slotfeldt formou-se em Design de Mídia Digital na PUC-Rio e sempre fez freelances além de investir em seu negócio próprio ao lado dos amigos do BitCake.
“De acordo com os coordenadores da GameFounders, fomos escolhidos porque somos muito apaixonados pelo que fazemos e eles viram potencial em nós. Achamos que realmente nos dedicamos no processo. As entrevistas por Skype foram os únicos momentos da história da empresa em que todos chegaram ao escritório bem cedo de manhã, só para aparecer na telinha da videoconferência com fuso horário de mais de quatro horas!”, completa a desenvolvedora.
Com isso, o destino foi definido. A partir do mês de março, o BitCake Studio deve ir até Talinn, na Estônia, para desenvolver games pela aceleradora GameFounders. Eles tem três meses, até maio. “Completarei 25 anos aqui na Estônia!”, nos disse Camilla, que faz aniversário no próximo dia 24.
“Ficamos surpresos em vir até este país. A verdade é que a Estônia, apesar da imagem de Ex-União Soviética, é um ótimo país na Europa para a área de tecnologia. O Skype nasceu aqui e o governo investe bastante na área. Tem WiFi de graça na cidade inteira, há 10 anos! Além disso, pelo que lemos em alguns artigos pela internet, aqui tem tantas startups por cidadão quanto nos Estados Unidos. Óbvio que com muito menos cidadãos, mas ainda assim algo incrível”, completa.
O que eles farão na Estônia?
Desenvolvedores do BitCake transformados em robôs de Project Tilt. Montagem em homenagem ao contato com a GameFounders na Estônia (Foto: Divulgação)
A quantia de 15 mil euros parece bastante, mas, para uma equipe de desenvolvimento de jogos digitais de seis pessoas, pode ser pouco. “O dinheiro não é muito e provavelmente boa parte dele vai ser usado nos sustentar pelos três meses aqui na Estônia. Ele também será usado em passagens para eventos em outros lugares aqui na Europa, como na Suécia e na Finlândia”.
Como o dinheiro não é muito, Camilla também explica que é necessário foco nos principais objetivos da startup. “O nosso foco aqui está sendo 100% no BitCake como uma empresa, pensando em como fazê-lo se estruturar e crescer e, principalmente, no Project Tilt. Nós somos apaixonados por esse game e temos recebido ótimos feedbacks sobre ele nas redes sociais. Também temos atividades diárias aqui, encontrando com vários mentores e ouvindo o que eles acham sobre o nosso projeto e respondendo perguntas nossas. Está sendo muito bom para conhecer pessoas importantes da indústria para descobrir o que podemos fazer para melhorar a experiência do jogo”.
Camilla Slotfeldt não revelou jogos novos da empresa ainda, mas revelou algumas ideias deles enquanto estão recebendo este incentivo. O GameFounders conta com uma empresa brasileira, uma argentina, uma chinesa, uma georgiana, uma estoniana e duas ucranianas.
Twitch Plays Pokémon inspira desenvolvimento coletivo de game
Nesta semana, o BitCake Studio liberou uma página em Google Docs chamada Tilt Lore. A ideia do texto coletivo e aberto é incentivar o engajamento da comunidade de jogadores do game brasileiro e receber abertamente novas sugestões, sem um processo burocrático entre desenvolvedores e seu público.
Twitch Plays Pokémon, que agora está rodando a versão Crystal de Pokémon, foi inspiração para desenvolvedores brasileiros (Foto: Reprodução/Twitch)
A inspiração da plataforma de desenvolvimento de ideias é que é inusitada. “Nos inspiramos no jogo coletivo Twitch Plays Pokémon e pensamos: Quem melhor para fazer isso do que as pessoas que jogam Tilt todos os dias? Fizemos um documento no Google Docs com uma compilação das ideias que já tínhamos e as que os players tinham dado no nosso grupo, e abrimos para todos modificarem. Eles já começaram a adicionar suas próprias ideias e a colaborar, e nós queremos que a história do Tilt saia muito melhor do que nós a faríamos sozinhos. E muito mais amada pela comunidade!”, explica Camilla, entusiasmada com a ideia de criação coletiva.
Mesmo aberto, o texto coletivo tem regras, especialmente contra trolls na internet. “Sem 'HUEzar'! Lembre-se que estamos deixando vocês escreverem a melhor história”, diz o manual do Lore. Dessa forma, a startup pensa em agregar ideias de gamers para tornar o seu jogo realmente atraente.
Brasileiros podem visitar a sede da criadora de Angry Birds
Um dos maiores exemplos de sucesso entre pequenas empresas que fazem jogos para celulares, a Rovio se transformou em um fenômeno nacional finlandês nos anos 2010 com Angry Birds. E os brasileiros do BitCake Studio terão uma oportunidade de conhecer esse caso de sucesso.
Criadora do Angry Birds, a sede da Rovio fica na Finlândia (Foto: Divulgação)
No dia 8 de abril, os brasileiros irão conhecer a Rovio, além das desenvolvedoras Supercell e Remedy. Camilla Slotfeldt nos conta um pouco sobre isso: “Estamos super animados com essas visitas. Tallinn fica a 2h de barca de Helsinki, sede dessas empresas. Nós faremos uma day-trip para visitá-las e participar de um evento da IGDA. Não sabemos muitos detalhes do que vai acontecer, mas a julgar pela abertura com que temos sido recebidos aqui pelos mentores da GameFounders, imagino que iremos aprender bastante com a experiência dos profissionais de lá”.
“Eu faço a direção de arte do jogo, junto todo a arte conceitual, a interface e a pintura de boa parte das texturas do jogo. Além disso faço imagens promocionais da empresa. Acredito que o mercado de games vai se transformar bastante nos próximos anos e hoje temos tendências novas que estão transformando a indústria. Precisamos aguardar para ver se elas se estabelecerão ou não”, finaliza Camilla, mostrando talvez que o mundo dos jogos digitais pede que você faça um pouco de tudo, e será diferente no futuro.
via Tech Tudo.
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