quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

'Nem sei o que é enxada', diz jovem produtor rural adepto da tecnologia

Empresas do Paraná investem pesado na criação e difusão de recursos.
Aplicativos ajudam no controle de ervas e na venda de grãos, por exemplo.


Smartphones são cada vez mais comuns na zona rural. (Foto: Flamma Comunicação/Cocamar/Divulgação)Smartphones são cada vez mais comuns na zona rural. (Foto: Flamma Comunicação/Cocamar/Divulgação)
Leandro Cesar Tezolin tem 35 anos e trabalha sob o conforto do ar-condicionado. Acomodado em uma poltrona de couro macio, ele empunha o smartphone e, com poucos toques na tela, analisa a previsão do tempo, vê a cotação do dólar, negocia uma venda e ainda responde aos amigos em uma rede social. O agricultor poderia estar em um escritório ou na casa dele, mas, em vez disso, está dentro de uma máquina de plantio, espalhando sementes de milho em seu sítio, em Maringá, no norte do Paraná. "Eu não sei nem o que é uma enxada. Minha geração vive outra época no campo. Antigamente, a vida era sofrida na roça. Agora, trabalhamos como se estivéssemos em um escritório moderno da cidade", confirma ele.
Não sei nem o que é uma enxada"
Leandro Tezolin, agricultor
Tezolin é retrato de uma nova geração de produtores rurais, cuja tecnologia é primordial para o trabalho diário no campo. "Eu saio de casa e já bato nos bolsos para ver se não esqueci o celular. Hoje, não conseguiria trabalhar sem o auxílio dos aplicativos. O celular me leva para cidade, mesmo estando no campo, me liga a ela. Vivo aqui [no campo] como se estivesse lá", afirma o jovem, por telefone, dividindo a atenção entre responder às perguntas da reportagem e plantar a próxima safra para o inverno.
Para o produtor rural, o trabalho agrícola é muito mais digno hoje em dia, com a disseminação dos recursos tecnológicos. "Meu avô e meu pai, também agricultores, sofreram bastante. Eu, não. Com a tecnologia, o trabalho na lavoura ficou fácil. Não existe mais aquela figura do trabalhador que sofre, que fica o dia inteiro embaixo do sol forte, fazendo trabalho totalmente manual. Hoje faço, sozinho, o trabalho que faziam em dez pessoas, há algumas décadas", calcula.
Fábio José Chavenco, de 36 anos, também usa apps na propriedade de 60 alqueires que divide com o pai. Produtor de soja e milho, ele utiliza os recursos do celular para fixar os preços dos produtos que vende e para calcular as áreas de plantio, conforme ele próprio. O agricultor, no entanto, revela dificuldade para ter sinal de internet, por meio do qual os aplicativos do smartphone funcionam.
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Pequenos produtores se alicerçam em cooperativas para ter garantia de venda (Foto: Flamma Comunicação/Cocamar/Divulgação)Tecnologia invadiu as máquinas agrícolas.
(Foto: Flamma Comunicação/Cocamar/Divulgação)
"Ajuda bastante, mas muitas vezes fico sem sinal de internet e acabo ficando sem os aplicativos. Essa é uma das maiores dificuldades. Até pouco tempo atrás, não tínhamos nada disso. Eu, mesmo, uso há só um ano, mas já faz diferença. Temos que nos adaptar ao mercado, né?", rende-se.
O pai de Chanvenco, de 69 anos, prefere não aderir à tecnologia, segundo o jovem. "Meu pai tem dificuldade para mexer até com os recursos básicos dos celulares atuais. Então, ainda não dá para obrigar todos os agricultoras a usarem isso [os aplicativos]. Pessoas como ele não têm condições, e nem querem, fazer parte dessa nova geração", diz o produtor.
Empresas investem na criação de aplicativos
Com o novo perfil dos homens do campo, as empresas voltadas à agroindústria, as cooperativas e o próprio governo trabalham, cada vez mais, para o desenvolvimento e a difusão de aplicativos usuais para os agricultores. Os principais sistemas são usados para o controle de pragas no campo, a negociação das produções e informações técnicas sobre as culturas.
A Cooperativa Cocamar, em Maringá, por exemplo, permite que muitos cooperados negociem suas culturas por meio de um aplicativo. Atualmente, mais de mil produtores rurais associados usam o sistema, conforme estatísticas da própria Cocamar. A maioria, confirma a cooperativa, é de homens entre 30 e 40 anos.
O Ministério da Agricultura desenvolveu o Sigla (Sistema de Informações Gerenciais para Laboratórios da Área de Resíduos e Contaminantes em Alimentos). O programa permite que o usuário rastreie pesquisas feitas em produtos dele por fiscais do governo, acompanhando o andamento das análises. O serviço é disponibilizado no site do Ministério.
RR Plus, da Monsanto, ajuda no combate a ervas daninhas. (Foto: Monsanto/Divulgação)RR Plus, da Monsanto, ajuda no combate a ervas
daninhas. (Foto: Monsanto/Divulgação)
A empresa Monsanto, com sede em São José dos Campos (SP), criou o Roundup Ready Plus (RR Plus), para informar as melhores práticas agrícolas para o manejo de ervas daninhas. Georgia Palermo, gerente de estratégia de proteção de cultivos da Monsanto, ressalta que o principal objetivo dos aplicativos é levar agilidade de informação para o campo, para que o produtor tenha melhor gestão e, por consequência, tenha mais ganhos.
"A agricultura não é mais sobrevivência, é negócio. O ramo vem crescendo baseado na tecnologia, ancorado nas facilidades do mundo moderno. Os aplicativos levam as informações com rapidez para as lavouras. Há a necessidade de se adequar, já que o espaço de terra é o mesmo, mas a demanda sempre cresce. O mercado te obriga a aderir às novidades", diz a gerente.
O aplicativo, porém, não ensina. Para usá-lo, é preciso ter conhecimento básico de agricultura, reitera Georgia. "O RR Plus serve para acrescentar, para facilitar, não para ensinar. Se for usado de forma adequada, o produtor terá muito mais rendimento, usando apenas os recursos estritamente necessários. O acesso à informação muda e torna o negócio muito mais produtivo", afirma a especialista. "O mercado está crescendo muito. Com isso, os mais novos estão se interessando e voltando da cidade para o campo. A tendência é que muitos jovens regressem, pouco a pouco, para a zona rural".
via G1
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