Felipe Sanches é ativista do software livre e sócio-fundador da Metamáquina, a primeira fabricante brasileira de impressoras 3D de baixo custo. Depois de um primeiro modelo lançado em 2012, a empresa lança agora a Metamáquina 2, uma impressora de cerca de 30cm de altura, capaz de reproduzir qualquer forma em plástico, desde que o seu usuário possua o modelo desejado em software.
Sanches aproveitou a sua visita ao Fórum Internacional do Software Livre, nesta quarta-feira (3), para tornar público o código de desenvolvimento da Metamáquina 2. Agora, programadores e engenheiros do mundo todo poderão fazer suas próprias modificações no projeto, desde que mantenham a tecnologia livre. Os arquivos podem ser encontrados no site https://github.com/metamaquina.
O TechTudo conversou com Sanches sobre software livre, a Metamáquina e o futuro da impressão 3D. Confira:
TechTudo: O que os usuários podem fazer com o código da Metamáquina 2?
Sanches: tem muita coisa que dá pra fazer. Por exemplo, por enquanto as nossas impressoras só imprimem em plástico, mas sei que é possível modificar a Metamáquina 2 para trabalhar com outros materiais. Certa vez, vi numa feira uma impressora que imprimia chocolate. Estou ansioso para ver o pessoal pirar em coisas desse tipo, desenvolvendo a Metamáquina 2 para aplicações que nós nem imaginamos.
TT: Por que você é militante do software livre?
Sanches: Eu entendo que, quando uma pessoa não tem acesso à tecnologia, ela está à mercê do proprietário do software. As iniciativas dos usuários para aperfeiçoar o produto são vetadas pelo proprietário, e considero isso uma violência.
TT: Os códigos dos softwares devem ser liberados para todo o mundo ou somente para os clientes que compraram o produto?
Eu sou a favor de liberar o código para o usuário. Quem não comprou a máquina não é usuário. Ainda assim, publicamos o código da Metamáquina 2 para o mundo. Isso foi por dois motivos: o primeiro é a praticidade, e o segundo é para que todos possam ajudar no desenvolvimento do projeto. Todo mundo pode fazer a sua modificação. Mas temos um termo de compromisso que diz que qualquer modificação em cima do nosso projeto deve ser livre. Senão, a gente processa.
TT: Quem são os clientes da Metamáquina?
Sanches: engenheiros, arquitetos e entusiastas da tecnologia que utilizam a impressora 3D para diversão. Tem muita escola comprando a Metamáquina para ensinar física, matemática, programação. Também é usada em laboratórios de fabricação digital em universidades. Vendemos máquinas para a USP, para a UNB, entre outras.
TT: Uma das grandes premissas das impressoras 3D é a sua capacidade de utilizar a própria impressora para fabricar partes de novas impressoras. Já a Metamáquina 2 tem muitas peças em metal, e ainda por cima cortadas a laser, o que dificulta o processo de fabricação caseiro.
Sanches: o corte a laser é facilmente achado no Brasil. Não é extremamente caro. Queremos otimizar o processo. Na hora em que você fala em produção de noventa máquinas por dia, que é o que nós fazemos, não dá para fazer no processo de reprodução padrão. Tem que otimizar.
TT: Há programadores que estão desenvolvendo arquivos de impressão de armas de fogo. O uso da impressora 3D para fins bélicos requer que ela seja regulada?
Sanches: Acho que não precisa regulamentação. O cara que quer fazer uma arma não precisa comprar uma impressora 3D, comprar plástico, baixar o arquivo e esperar horas para fazer uma arma que fica inutilizada depois de um disparo. Ele pode fazer um assalto com uma faca de cortar pão. Esse discurso, que nos Estados Unidos vem de encontro com as leis antiterroristas, é perigosíssimo. A gente não pode dar bandeja para político que queira utilizar esse argumento para barrar o desenvolvimento tecnológico brasileiro.
TT: O que podemos esperar das impressoras 3D no futuro?
Sanches: É maravilhoso o agora, mas tem muito para evoluir. Já existem impressoras de outros materiais que não o plástico, mas são tecnologias patenteadas por empresas. A gente usa a criatividade para achar brechas na lei e desenvolver sem esbarrar nessas patentes. O nosso trabalho é "tipo galera", a gente não é um grupinho fechado. As grandes inovações não vêm de um grupo fechado num quarto, mas sim do poder de inovação da rede.
via tech tudo
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