E a imagem da Konami segue ficando pior a cada nova informação sobre como é o clima em seus escritórios no Japão e de como ela trata seus funcionários. Após as denúncias de que a empresa constrangia empregados que demoravam demais na hora do almoço e enviava desenvolvedores para trabalhar como seguranças ou mesmo na equipe de limpeza, eis que outros relatos de assédio moral surgem para complicar ainda mais a situação.
De acordo com o site Kotaku, vários ex-funcionários e até mesmo algumas pessoas que ainda trabalham por lá entraram em contato para apresentar mais exemplos de abusos cometidos pela companhia. Como o próprio site descreve, a sensação que fica é que o estúdio que nos trouxe clássicos como Castlevania, Silent Hill e o vindouro Metal Gear Solid V: The Phantom Pain foi tomado por um clima autoritário como no livro 1984, em que o Grande Irmão observa a tudo e a todos.
O mais assustador disso tudo é a existência de uma divisão chamada Departamento de Audição Interna, que é descrito pelos próprios empregados como uma espécie de polícia secreta da Konami. Ele simplesmente monitora a comunicação dentro dos escritórios da empresa, incluindo e-mails, além do circuito de segurança interna e acompanha de perto quem entra e quem sai do prédio.
E nem mesmo essa simples movimentação é tranquila. Como vários relatos apontam, os funcionários que precisam sair dos escritórios devem apresentar um documento de identificação próprio da Konami e informar à segurança para onde estão indo e o que vão fazer. Caso isso seja feito durante o expediente, tudo é registrado e, caso isso se torne algo frequente, a pessoa vai ser repreendida.
Mais do que isso, a atuação desse departamento — que lembra muito o DOI-CODI existente durante a Ditadura Militar aqui no Brasil — não se limita apenas à própria Konami, uma vez que eles ainda monitoram ex-funcionários. Segundo uma fonte relatou ao Kotaku, eles chegam ao ponto de ligar para o novo trabalho daquele ex-funcionário apenas para falar o quanto ele é um terrível profissional. Em outras palavras, é quase como aquele ex-namorado que não aceitou o fim do relacionamento e que segue perseguindo e enchendo o saco tempos depois.
Só que os absurdos não param por aí. Além do Departamento de Audição Interna, há o chamado Grupo de Monitoramento, que consiste em uma equipe dedicada a acompanhar constantemente as câmeras de segurança espalhadas por todos os cantos, seja nos corredores ou dentro das áreas de trabalho. E a "polícia secreta" tem acesso a todas essas imagens a qualquer momento.
Achou pouco? Pois os funcionários que quiserem ter acesso à internet precisam fazer uma solicitação à seção de tecnologia da informação para que ela libere uma rede segura (VPN) para isso. Um ex-funcionário afirmou ainda que a empresa tira screenshots dos computadores para conferir o que está sendo acessado e não foram poucas as vezes em que alguém foi confrontando pela chefia por causa dessas imagens feitas indevidamente.
Para completar o clima totalitário, relatos afirmam que a Konami realiza uma transmissão interna toda segunda-feira com os seus executivos e que todos os demais empregados devem assisti-la. Aquele que porventura não conseguir assistir ao vídeo não só é repreendido como ainda tem seu nome e divisão anunciados para toda a empresa.
Um pouco além dos limites
De acordo com o Kotaku, algumas dessas práticas são consideradas corriqueiras dentro da própria cultura japonesa, como o uso de cartões de tempo e de acesso aos escritórios. No entanto, mesmo para os padrões nipônicos, a postura da Konami é tida como radical e fora daquilo que muitos consideram normal no país.
Tanto que muitos atuais e ex-funcionários da empresa, além de gente ligada a outras companhias, afirmam que as práticas adotadas pelo estúdio parecem muito com aquilo que estamos acostumados a ver na Coreia do Norte, que vive sob uma ditadura que não apenas controla a informação como ainda monitora a população, que vive praticamente sem liberdade alguma.
O site ainda questiona muito bem o porquê da Konami estar se blindando tanto assim a ponto de apelar para medidas de segurança tão extremas quanto essas. O estúdio vem trazendo cada vez menos lançamentos para consoles e, nos últimos meses, o que vimos foram apenas polêmicas e alguns jogos de Pachinko inspirados em suas franquias clássicas — algo que um rumor anterior já dizia que seria uma de suas prioridades nessa nova fase e que vem se tornando cada vez mais realidade.
Diante de tudo isso, não é difícil imaginar por que nomes como Koji Igarashi e o próprio Hideo Kojima decidiram abandonar o barco. E, de acordo com esses novos relatos, também fica fácil entender o porquê de toda essa birra com o criador de Metal Gear e a remoção de seu nome de tudo quanto é lugar.
Para uma empresa que sempre nos trouxe heróis tão marcantes, a Konami vem se revelando uma terrível vilã.
Via: Kotaku
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