quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Analista critica mercado gamer: 'Mulher não pode gostar de jogos de tiro?'

Paula Neves (28) é blogueira e analista de marketing da empresa Nano Studio e está envolvida com o projeto Favela Wars, um dos games brasileiros mais bem sucedidos da atualidade. Ela conversou com o TechTudo, para a coluna Geração Gamer, sobre feminismo nos jogos digitais, o estereótipo das mulheres nos videogames e sobre seu trabalho.
Lara Croft, protagonista de Tomb Rider: Ela sofreu uma transformação? (Foto: Divulgação)Lara Croft, protagonista de Tomb Rider: Ela sofreu uma transformação? (Foto: Divulgação)
O estereótipo das mulheres nos games
Segundo Paula Neves, não deveria existir um gênero ou denominação de "games feitos para as mulheres", porque a classificação em si é machista e pressupõe a necessidade de uma atenção especial e diferenciada. "Mulher não pode gostar de jogos de tiro? Arrancar cabeça de zumbis? Atropelar umas pessoas pela rua? Se uma menina gosta de jogos assim, isso faz dela menos feminina?”, questiona a analista. Para ela, também é importante que os jogos deixem de retratar as mulheres como objetos de conquista. “Chega da mulher que espera o grande herói vir salvá-la, né?”, completa a blogueira.
Paula se identifica bastante com a vlogueira Anita Sarkessian, autora do canal Feminist Frequency. “Como ela mesma diz, os games em geral ajudam a reforçar o arquétipo da ‘donzela em perigo’, porque teoricamente é isso que vende. Me recuso a acreditar que só essa fórmula desgastada funcione, especialmente considerando nossa economia de nicho”, diz Paula Neves. Ela acha que, cada vez mais, existirão jogos voltados para públicos específicos, quebrando velhas barreiras como o machismo.
Paula Neves, analista de marketing da Nano Studio (Foto: Divulgação)Paula Neves, analista de marketing da Nano Studio (Foto: Divulgação)
Então como devem ser as personagens femininas?
Paula dá uma pista para jogos menos machistas: “Acho que colocar mulheres fortes pode ser a melhor solução a longo prazo. Gosto, por exemplo, do que faz a franquia Portal, com uma protagonista despretensiosa e uma antagonista sensacional, ambas mulheres”. Lara Croft com um visual mais realista, com menos apelo sexual e mais desafios, também agradou Paula Neves no novo Tomb Raider.
“Sempre tive que ouvir gracinhas desagradáveis, mas isso só me motivava a jogar ainda melhor. O povo acha que menina só pode jogar Mario, Pokémon. É muito difícil as pessoas acreditarem que tem muita garota por aí que adora GTA e jogos de tiro." Para Paula, a mulher gamer se sente sozinha e descriminada. "É uma luta. Temos que levantar bandeira, nos afirmar muito mais que os homens, além de lutar por um mercado menos sexista”.
Mercado de games brasileiro e Favela Wars
Favela Wars, game que é divulgado por Paula Neves (Foto: Divulgação)Favela Wars, game que é divulgado por Paula Neves (Foto: Divulgação)
“Sou blogueira e escrevo sobre games há muitos anos. Também faço bordados usando a temática de games e outras coisas geeks." O trabalho abriu portas e permitiu que Paula conhecesse muitas pessoas que trabalham com games, participasse de eventos e mesas redondas. "Paralelamente, sempre atuei na área do marketing. Em 5 anos de mercado, trabalhei com os temas mais diversos, desde saúde, até varejo online de camisetas. Também fui gerente de marketing do Camiseteria”, disse Paula Neves, sobre seu passado. Atualmente, ela trabalha no mercado mais técnico de jogos digitais, no Nano Studio.
Para a gamer há duas grandes desvantagens no mercado brasileiro: O preço dos impostos e a falta de fomento. Os impostos inviabilizam a presença de grandes empresas estrangeiras no Brasil e sem elas não há concorrência interna, um dos fatores que mais gera a evolução de um mercado.
Gameplay de Favela Wars (Foto: Divulgação)Gameplay de Favela Wars (Foto: Divulgação)
Mesmo com esses problemas, o Nano Studio ganhou destaque no mercado de jogos para PC com o game Favela Wars e é uma promessa brasileira nos sistemas mobile iOS e Android. O título já conta com 150 mil usuários cadastrados, mostrando que é possível se destacar no mercado nacional. “A geração que nasceu nos anos 80, a primeira que nasceu e presenciou a evolução dos videogames, está buscando aquecer o mercado. Falta incentivo maior, como ocorre em educação, cultura, arte e entretenimento no país. Faltam projetos sociais como o Games for Change, cujo fim é dar novas perspectivas a jovens através dos jogos. Mesmo assim, hoje vivemos um momento muito melhor. Acredito na flexibilidade e no poder de adaptação do brasileiro”, falou a gamer.
E o futuro?
“Somos uma geração apaixonada por consoles e jogos eletrônicos. Como disse o historiador Johan Huizinga, em seu livro Homo Ludens, o jogar é extremamente primitivo, é uma das primeiras coisas que nossa espécie inventou. Agora, mais do que nunca, somos movidos pelos games. Então, acho que a indústria só tem a crescer e acredito ser importante trabalhar os jogos como motivadores da mudança social”, diz a especialista.
via tech tudo
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