
Reinaldo Normand não é nenhum estranho ao empreendedorismo no exterior: com uma história de seis startups nas costas, em 2007 ele deixou Belo Horizonte com a ideia de criar um console de video game focado em mercados emergentes, com a capacidade de usar redes móveis para baixar novos jogos. Apelidado de Zeebo, o projeto chegou a ser abraçado pela gigante de hardware Qualcomm e foi o responsável por introduzir o brasileiro à região do Vale do Silício.
Desde então, Normand não voltou mais: fixou residência em San Diego e depois no Vale do Silício e, com exceção de um período em 2010, quando morou em Xangai, na China, continuou inovando na costa oeste norte-americana. A mais nova ideia dele, no entanto, vai na outra direção: usando a experiência que adquiriu com os anos de Vale, ao invés de fazer, Normand decidiu ensinar.
Gratuita e com duas horas de duração, a primeira "aula" do empreendedor já está online e pretende ser um guia para quem quer começar seu negócio no Vale do Silício. Ao Canaltech, o brasileiro contou que a proposta é manter a conversa em um nível introdutório, com respostas para dúvidas gerais sobre o local.
A própria ideia de criar o guia surgiu na veia empreendedora do mineiro. Com vocabulário de startup, Normand afirma que viu no curso uma oportunidade de "escalar" as dezenas de conversas com empreendedores com dúvidas que encontrava na região do Vale.
"Ao invés de conversar com um por um e falar as mesmas coisas, pensei em pegar o que havia de comum em todas as conversas e colocá-las em um formato em que as pessoas pudessem entender e depois fazer", explicou ao Canaltech.
A primeira lição já começa antes mesmo de dar o play. O guia em vídeo de Normand é completamente em inglês e sem legendas, e isso tem motivo: sem conhecimento da língua, Normand alerta que é "impossível" empreender no Vale.
Normand explica que uma das coisas mais importantes para se entender sobre o Vale do Silício é a cultura própria da região. Meritocracia, ética do trabalho, prestação de contas e responsabilidade profissional, todas são expressões e noções comuns entre as pessoas que inovam por lá e essenciais para quem quer mergulhar na sociedade local.
"Eu tento fazer com que as pessoas entendam e se encaixem nessa cultura", disse. "Um exemplo é a questão da ideia. Fora daqui o pessoal fala muito da 'ideia', e acha que isso vale alguma coisa. O que eu aprendi aqui é que 99% do sucesso de qualquer empresa está na execução da ideia".
Além disso, o curso explora alguns aspectos mais técnicos da inovação na região, explicando as diferenças entre desembarcar no Vale como um executivo, empreendedor ou estudante, a importância do networking e da reputação e até a popular ideia do "falhar rápido".
Questionado pelo Canaltech, Normand afirma que mesmo com uma bagagem boa e um projeto inovador em mãos, o Vale do Silício ainda pode ser um ambiente hostil. O empreendedor alerta que muitos que chegam na região acreditam que desenvolver projetos inovadores por lá é uma tarefa muito mais fácil, o que não necessariamente é verdade.
"O primeiro erro é imaginar que as coisas são simples só porque as coisas funcionam no Vale", alerta. "Primeiro porque você vai fazer uma empresa global. Segundo, você vai competir com o mundo todo, não só com brasileiros. E terceiro: é um ambiente inóspito, todo o processo de aprendizado vai ter que ser na marra".
Além disso, também é preciso levar em conta que apesar de ser um ambiente de inovação constante, o Vale do Silício é uma área que já mostra alguma saturação. Na avaliação de Normand, ainda há muito espaço e oportunidade para aqueles que encontrarem bons nichos de mercado, mas a grande quantidade de pessoas tentando emplacar suas startups por lá dificulta a situação para quem está chegando agora. Além disso, São Francisco hoje é uma cidade com um custo de vida alto, o que pode complicar os planos de muita gente que queira se estabelecer por lá.
Aqui são duas as dicas: manter uma equipe mínima no Vale, como um só executivo para manter negócios na região, ou apostar em outras cenas que começam a ganhar força entre empreendedores, como Los Angeles ou até Seattle. "Mas eu recomendo às pessoas irem para onde for o melhor tipo de negócio para elas", afirma.
Lançado há cerca de um mês, o guia de Normand já teve pouco mais de 1,8 mil acessos na plataforma Udemy e deve ser só o primeiro passo do empreendedor na área. A ideia agora é ser mergulhar em alguns temas mais elaborados, mas ainda ao redor do Vale do Silício, desde Imigração até como levantar dinheiro para o seu projeto.
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